Para se livrar do rótulo de “artistas de TV”, intérpretes se ariscam montando clássicos da dramaturgia.
O que Harold Pinter, August Strindberg e Sam Shepard têm em comum? Para além de figurarem no panteão dos grandes da dramaturgia universal, esses autores se tornaram o alvo preferencial de alguns intérpretes. Mas não de quaisquer intérpretes. Carimbados com a pecha de galãs e mocinhas, muitos agora tentam se livrar do estigma seguindo o mesmo caminho ditado pelos norte-americanos.
Se, por lá, vingou a moda de trocar os estúdios de Hollywood pelos palcos na Broadway, aqui se torna cada vez mais freqüente o movimento de recorrer a consagrados textos do teatro.
Em papéis notoriamente “difíceis”, atores e atrizes da TV tentam comprovar seus dotes. Ou, simplesmente, buscam meios de se experimentar nas artes dramáticas. Reynaldo Gianechinni pôs um ponto final em seu papel na novela Passione e já tem pressa em entrar na sala de ensaio para se dedicar no estudo da personagem Gustavo, protagonista de Cruel - uma adaptação do clássico de August Strindberg, Os Credores. Estréia prometida para Junho. Além de Gianechinni como protagonista, o diretor da peça Elias Andreatto apostou em Érik Marmo para antagonista.
Além dele, há alguns outros que estão lançando-se no arriscado território da “alta dramaturgia”. Primeiro, Thiago Lacerda mergulhou na loucura descrita por Albert Camus em Calígula(apresentada há pouco tempo em Campo Grande). Depois, foi a vez de Malvino Salvador a se lançar, conhecido quase exclusivamente por suas aparições em telenovelas, mudar de lado e surgir como o soturno protagonista de Mente Mentira, de Sam Shepard.
Cansada de bancar a boa moça, Maria Fernanda Cândido travestiu-se de malvada em Ligações Perigosas, de Christopher Hampton. E Paula Burlamaqui resolveu buscar em O Amante, de Harold Pinter, uma peronagem sob medida. “Já tinha feito muitas peças, mas nunca exatamente aquilo que eu queria fazer”, comenta a atriz, que abre temporada do espetáculo no Rio em Março.
Portas fechadas: Se a fama conquistada na televisão abre muitas portas, é unânime entre esses artistas a percepção de que ela também fecha outras tantas. “Existe uma cobrança sobre eles que, às vezes, é muito maior do que aquela que cai sobre ‘gente do teatro’”, constata Andreatto(Diretor de Cruel), “É imenso o preconceito que existe contra o sucesso, contra a beleza. Parece que o sujeito tem que provar mil vezes que é ator.”
A atriz Maria Fernanda Cândido, confirma a existência do preconceito, mas minimiza seus efeitos. “Já escutei muitas vezes: ‘Você me surpreendeu’. Talvez digam isso porque não acreditavam em mim. Mas não me incomoda.”
Malvino Salvador em Mente Mentira
Maria Fernanda Cândido em Ligações Perigosas
Thiago Lacerda em Calígula
Paula Burlamaqui em O Amante
"No Teatro é um momento de formar repertório, de exercitar certas coisas que você poderá acessar depois. Toda vez que vou para o teatro, volto com mais recursos.” - - Reynaldo Gianechinni
“O Teatro te apressa para a pressa da televisão” - Reynaldo Gianechinni
“O Teatro te apressa para a pressa da televisão” - Reynaldo Gianechinni
“É imenso o preconceito que existe contra o sucesso, contra a beleza. Parece que o sujeito tem que provar mil vezes que é ator.” - Elias Andreatto
“Sou contratado de uma emissora e isso é confortável. Mas queria fazer algo que falasse à minha essência. Gosto de sentir que tenho algum grau de domínio sobre o rumo da minha carreira” - Malvino Salvador. Após ficar 6 anos em busca de um texto que o instigasse, montou uma das mais complicadas e festejadas criações do norte-americano Sam Shepard."
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